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Vamos lá ter um bebé!

Achavam que iam encontrar resposta para os dramas da maternidade? Não! Este blog conta a experiência de 2 pais inexperientes que ainda estão aprender a diferença entre body e babygrow. Prometemos doses de riso e muito amor!

Quando percebi o Dia da Mulher.

Sempre achei o dia da mulher um contra-senso. Não fazia sentido haver um dia para as mulheres se todos os dias já eram delas. Delas e deles. Haviam lutado pela igualdade e haviam conseguido. Porquê haver um dia para o sexo feminino se o que tínhamos conseguido era que todos os dias fossem de todos os sexos?

Nao me julguem. Era inconsciente do mundo e da sociedade.

Depois de ter a minha filha encarei a tal sociedade que em tempos eu achava consciente e evoluída e foi como um chapadão da realidade (e a realidade tem uma mão cheia de aneis nos dedos).
Tao grande foi o chapadão que só hoje, passado quase 1 ano, consigo partilhar a minha história sem dó nem piedade.
(Dizem que com a idade vamos perdendo os filtros - precoce, eu sei! - e para além disso eu sempre tive uma veia meia inconveniente portanto já estou a entrar numa fase que não quero nem saber.)

Vivemos num mundo em que desde que nascemos somos bombardeados com mensagens da sociedade que nos dizem o quão importante é ter um marido, filhos, uma família (em forma de filmes, de livros, de professores, de família, de estado, etc).


São uns falsos. Andam a enganar-nos. Não se deixem levar!


O mundo está feito para o foco ser na produção, trabalharmos mais, querermos mais, comprarmos mais ... e, no fim, termos menos tempo para as usufruir.
Eu sempre soube disto. Aliás, eu sempre ouvi falar disto. E acreditei nisto.
Mas, nunca tinha sentido verdadeiramente isto na pele.

A minha história foi assim: pouco tempo antes de sair para a minha licença de maternidade tinha pedido um aumento de ordenado por motivos que eu acreditava fazer sentido, e eles naquela altura concordaram.
Foi-me dito que quando voltasse de maternidade que se falaria no assunto porque efetivamente o pedido era pertinente e fazia sentido ser considerado.
Infelizmente por questões médicas tive de meter baixa 2 meses antes da licença de maternidade.

Depois lá passei por todas as experiências que uma mãe de primeira instância passa nos primeiros meses de vida de um bébe e que eu acho que só acrescenta valor ao carácter de uma mulher.
Lá voltei passado os 7 meses (2 de baixa mais 5 de licença) com a energia típica de mulher, mãe de um recém nascido, trabalhadora e com a garra e a vontade de fazer mais e melhor porque estava a passar dos momentos mais felizes e fortes da minha vida. Acabava de ter um bébe e quer dizer se isto não é uma vitória moralizante na vida de uma mulher, o que é que é?
Foi passado um ou dois meses, quando tive de puxar o assunto do tal aumento já discutido anteriormente e que teve concordância, que me caiu a grande ficha.
Eu não acreditei quando uma mulher da chefia me calou completamente com esta resposta compreendida por estas palavras seguidas umas das outras:
"Não te podemos aumentar agora porque não sabemos se és a mesma pessoa que eras quando saíste daqui há cerca de 7 meses para seres mãe, podes não estar igual."
Uma mulher  que poderia/deveria ter uma maior empatia pela minha situação em pleno século XXI responde-me isto.

A verdade é que de facto as mulheres ainda são descriminadas por serem mulheres.
Obrigam uma mãe a por um bébe na escola ao fim de 5 meses, consideram que uma mulher depois de ser mãe tem menos valor e que embora tenha uma familia maior e mais custos, não merece ser aumentada, e ainda quando pedi para que me permitissem entrar mais cedo para conseguir sair mais cedo para estar mais tempo com a minha filha, me disseram que isso era impossivel e que podia entrar mais cedo mas teria sempre de sair às 19:00.

Um mês depois desta conversa estava a despedir-me. Um segundo depois desta conversa estava a dar valor ao Dia da Mulher.

IMG_0118.PNG 

Este dia existe porque, ao contrário do eu acreditava, ainda não conseguimos que todos os dias fossem de todos os sexos.

O Dia da Mulher ainda tem de existir para nos relembrar que esta luta ainda está viva e que nós não vamos baixar os braços até ao dia em que o Dia da Mulher seja, efetivamente, todos os dias.

A mãe.

 

To eat or not to eat, eis a questão.

Quando estás grávida vais a um básico restaurante de hamburgueres e o teu pedido é mais complicado de explicar que o conceito de buraco negro. "Queria o hamburguer XPTO mas, e agora é melhor trazer o bloquinho de notas, a carne muito bem passada, sem ser esturricada mas também não pode ser crua, sem a alface, tire tudo o que é verde e cru, deixe o tomate mas tem de grelhar (tem mesmo de deixar o tomate cozinhar), com cheddar em vez de brie e a cebola tem de ser passada na chapa."

 

As restrições alimentares são um tema. 

 

De um lado temos os médicos mais conservadores que por eles até a sopa era feita com água engarrafada, por outro os mais modernaços que aconselham um sushi por mês para a criança não nascer com cara de niguiri. 

 

E nós grávidas pela primeira vez, com pouca inteligência e conhecimento relativamente a qualquer tema da gravidez, vamos vendo o que esta e aquela vão fazendo e tentado balançar aquilo que se vai ouvindo dizer. 

 

Como a minha médica também não é rapariga de grandes posições relativamente a este tema, fui largada um bocado aos lobos apenas com a noção de duas coisas "não comer alimentos crus, não comer alface e tomate sem passar por vinagre". Parece coisa pouca "ahhh, que exagero, elas não podem comer sushi e tártaro de resto podem comer tudo aquelas lontrinhas". 

Mas só que não!

 

Presunto é considerado carne crua, os queijos têm de ser pasturizados (o leite não pode ser cru), as frutas afinal também não podem ser comidas assim tranquilamente porque a casca pode ter a mesma bactéria que está no tomate e na alface antes de serem passados por vinagre, os bivalves estão fora das hipóteses porque se tiverem estragados é um filme.

 

E isto são as coisas que eu tenho atenção, porque há outras coisas que supostamente não são aconselháveis mas enquanto não me derem uma justificação minimamente credível e com sentido também não vou deixar de comer só porque sim (como é o caso do camarão).

Posto isto, gasto mais vinagre do que creme para prevenir as estrias e rendo-me ao doces que são meus amigos verdadeiros e não me fazem mal (menos à mousse de chocolate que tem ovos crus!).

 

 

Mas já estou na recta final da gravidez e não aprendo.

Não sei se é da falta de memória que o meu homem já mencionou anteriormente (algo que eu não me lembro de acontecer assim tantas vezes, mas acredito no que ele diz!), ou se é simplesmente distração. Mas no outro dia (já com 7 meses de restrições) estava muito bem a deliciar-me com um wrap do Mcdonalds quando me apercebo que estou a comer alface e tomate. Oh meu deus! O vinagre! As bactérias! A toxoplasmose e tudo o que isso implica (que nunca ninguém me soube explicar o que era exatamente!).

Senti-me uma lontrinha, má mãe, com défices de atenção e sem capacidade de tomar conta de nada nem de ninguém. Quase que chorei. Com algum esforço, pousei o wrap de lado e foquei a minha atenção no Mcflurry de M&M's.

 A mãe.

A gravidez é um estado de graça?

Nunca me interroguei, nunca dediquei um minuto do meu pensamento nem das minhas leituras curiosas aos 9 meses de gravidez das mulheres.

 

Mas, agora que estou grávida e em pouco tempo de observação identifico vários padrões, vários "tipos de grávidas" e vários tipos de experiências verdadeiramente diferentes!

 

Aquelas que estão de mau feitio o tempo todo e que é tudo uma chatice e um desconforto - enjoam de manhã à noite, têm azia, dores ciáticas e desejos inconcebíveis. 

Aquelas mais stressadas que estão constantemente preocupadas com a criança e que acabam com a vida pessoal da médica obstetra. 

Aquelas que têm uma gravidez verdadeiramente santa, que nem uma ligeira pontada nas costas tiveram, tão pouco um buraquinho de celulite. Fazem ginásio todos os dias e comem salada de abacate ao pequeno almoço. 

 

Eu não me consigo encaixar em nenhum tipo. Para dificultar um bocado, acho que sou todos os tipos juntos. Já senti uma ou outra dor ciática, já fiz hidroginástica ao final do dia de trabalho para ver se a celulite não ficava pior e já liguei à minha médica obstetra três vezes seguidas a um sábado.

 

Se a gravidez é uma estado de graça? Não sei.

 

Sei que desde o momento em que aquele teste deu posivito que sinto uma força muito poderosa e um amor gigante por uma fotografia a preto e branco que destaca apenas ossos e orgãos.

 

É a sensação mais forte e feliz de sempre! Venham daí as bolas de berlim ao lanche e as saladas de abacate como remorso ao pequeno almoço do dia a seguir. 

A mãe.

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