Quando percebi o Dia da Mulher.
Sempre achei o dia da mulher um contra-senso. Não fazia sentido haver um dia para as mulheres se todos os dias já eram delas. Delas e deles. Haviam lutado pela igualdade e haviam conseguido. Porquê haver um dia para o sexo feminino se o que tínhamos conseguido era que todos os dias fossem de todos os sexos?
Nao me julguem. Era inconsciente do mundo e da sociedade.
Depois de ter a minha filha encarei a tal sociedade que em tempos eu achava consciente e evoluída e foi como um chapadão da realidade (e a realidade tem uma mão cheia de aneis nos dedos).
Tao grande foi o chapadão que só hoje, passado quase 1 ano, consigo partilhar a minha história sem dó nem piedade.
(Dizem que com a idade vamos perdendo os filtros - precoce, eu sei! - e para além disso eu sempre tive uma veia meia inconveniente portanto já estou a entrar numa fase que não quero nem saber.)
Vivemos num mundo em que desde que nascemos somos bombardeados com mensagens da sociedade que nos dizem o quão importante é ter um marido, filhos, uma família (em forma de filmes, de livros, de professores, de família, de estado, etc).
São uns falsos. Andam a enganar-nos. Não se deixem levar!
O mundo está feito para o foco ser na produção, trabalharmos mais, querermos mais, comprarmos mais ... e, no fim, termos menos tempo para as usufruir.
Eu sempre soube disto. Aliás, eu sempre ouvi falar disto. E acreditei nisto.
Mas, nunca tinha sentido verdadeiramente isto na pele.
A minha história foi assim: pouco tempo antes de sair para a minha licença de maternidade tinha pedido um aumento de ordenado por motivos que eu acreditava fazer sentido, e eles naquela altura concordaram.
Foi-me dito que quando voltasse de maternidade que se falaria no assunto porque efetivamente o pedido era pertinente e fazia sentido ser considerado.
Infelizmente por questões médicas tive de meter baixa 2 meses antes da licença de maternidade.
Depois lá passei por todas as experiências que uma mãe de primeira instância passa nos primeiros meses de vida de um bébe e que eu acho que só acrescenta valor ao carácter de uma mulher.
Lá voltei passado os 7 meses (2 de baixa mais 5 de licença) com a energia típica de mulher, mãe de um recém nascido, trabalhadora e com a garra e a vontade de fazer mais e melhor porque estava a passar dos momentos mais felizes e fortes da minha vida. Acabava de ter um bébe e quer dizer se isto não é uma vitória moralizante na vida de uma mulher, o que é que é?
Foi passado um ou dois meses, quando tive de puxar o assunto do tal aumento já discutido anteriormente e que teve concordância, que me caiu a grande ficha.
Eu não acreditei quando uma mulher da chefia me calou completamente com esta resposta compreendida por estas palavras seguidas umas das outras:
"Não te podemos aumentar agora porque não sabemos se és a mesma pessoa que eras quando saíste daqui há cerca de 7 meses para seres mãe, podes não estar igual."
Uma mulher que poderia/deveria ter uma maior empatia pela minha situação em pleno século XXI responde-me isto.
A verdade é que de facto as mulheres ainda são descriminadas por serem mulheres.
Obrigam uma mãe a por um bébe na escola ao fim de 5 meses, consideram que uma mulher depois de ser mãe tem menos valor e que embora tenha uma familia maior e mais custos, não merece ser aumentada, e ainda quando pedi para que me permitissem entrar mais cedo para conseguir sair mais cedo para estar mais tempo com a minha filha, me disseram que isso era impossivel e que podia entrar mais cedo mas teria sempre de sair às 19:00.
Um mês depois desta conversa estava a despedir-me. Um segundo depois desta conversa estava a dar valor ao Dia da Mulher.
Este dia existe porque, ao contrário do eu acreditava, ainda não conseguimos que todos os dias fossem de todos os sexos.
O Dia da Mulher ainda tem de existir para nos relembrar que esta luta ainda está viva e que nós não vamos baixar os braços até ao dia em que o Dia da Mulher seja, efetivamente, todos os dias.
A mãe.