Achavam que iam encontrar resposta para os dramas da maternidade?
Não!
Este blog conta a experiência de 2 pais inexperientes que ainda estão aprender a diferença entre body e babygrow.
Prometemos doses de riso e muito amor!
A noite de 7 para 8, passei-a quase em claro. Sentia dores, mas não as conseguia localizar e isso angustiava-me. Só de manhã, lá para as sete é que percebi o que se estava a passar quando recebi um telefonema do meu genro a contar que já tinham estado no hospital durante a noite mas que tinham voltado a casa. Estava tudo explicado, eram as dores de ser mãe de uma mãe, ou seja avó.
Era precisa a minha colaboração, levando o genro e a grávida já cheia de contracções de Cascais para o hospital em Lisboa. Foi à filme, sempre a abrir pela berma da A5, com a grávida a portar-se calmamente, mas a introduzir pressão na condutora de sete em sete minutos.
Não vou falar-vos do parto, já o fez a avó paterna. Vou falar-vos sim sobre o que sinto enquanto avó de primeira água. Tudo quanto é cliché é verdade, a alegria da continuidade do indivíduo e da espécie, blá, blá, blá. Ainda por cima a minha neta é igualzinha à minha filha, só que em mais miudinho e com os pés e as mãos do pai. Ergo, uma segunda Aninhas.
O que eu quero mesmo contar-vos é que o sentimento que mais me tem dominado é o de total inadequação. Nada é como no meu tempo…
Enfaixar o umbigo da criança? Nada disso. Pôr creme no rabete quando se muda a fralda? Já era. Aquecer o leite do biberão? É quase crime. Dar água ao bebé? Dá é prisão. Ferver os biberões numa panela durante 20 minutos? Nah, agora é tudo no microondas e 4 minutos bastam. Água fervida? Disparate, dá-se é água do garrafão.
Bom, a história é infindável. E eu vou aprendendo e avançando como posso, confiando na minha adorada filha e no meu genro para me ensinarem. O meu genro que tem sido extraodinário e a quem voto a minha admiração eternal. Porque eu não acho que no meu tempo é que se sabia, mas sim que devemos adaptarmo-nos aos tempos, para não nos fazermos velhos e inadequados.
Quinze dias passados, acho que já interiorizei as novas maneiras, bem mais práticas do que as do meu tempo. Como em tudo, prevalece o bom senso. E deixo-me guiar pelo enorme amor que tenho pela minha filha e, agora, por este pedacinho de gente que já abre bem os olhos e que, de certeza, já reconhece uma avó tão moderna.
Nasceu a Diana, esta princesa daquilo que é a nossa nova vida! E tal é verdade este título que ela se mostrou realeza logo nos primeiros dias de vida.
No dia 8 nasceu a nossa pequenita cheia de de força e com uma voz que parecia um tenor. O primeiro dia e a primeira noite são verdadeiramente assustadores para mim e para a mãe, entre dar de mamar, trocar fraldas e perceber o porquê do choro estas primeiras horas são deveras intensas.
A Di é claramente uma menina que veio ao mundo para ter uma vida daquelas que uma pessoa diz "grandes vidas", digo isto porque ela ainda agora nasceu e aos primeiros dias já está a levar massagens feita uma lord.
Passo a informar os menos informados que os bebés quando são recém nascidos por vezes precisam de ser ajudados a fazer as suas necessidades, então a menina tem de levar umas massagens jeitosas na barriga no sentido dos ponteiros do relógio seguindo algumas estratégias mas que acabam por servir todas o mesmo propósito, por o intestino a trabalhar.
Ao ver as enfermeiras a fazer estas massagens parece que estão a esmigalhar a barriguinha do bebé e a chamar sarcasticamente nomes queridos às massagens como I Love U (é a forma como se mexe os dedos ao longo do intestino grosso do bebé).
Outro belo desafio é o da amamentação.. pobres mães que têm de passar pelo martírio de terem um bebé a fazerem-lhes um chupão na parte mais sensivel da maminha durante 30min. Como processo não estava a ser fácil para a mãe foi-nos sugerido que dessemos durante um dia ou dois leite de fórmula para ver se as maminhas saravam um bocado porque fizeram logo ferida. Assim fizemos e ela não se importou nada.. comeu tudo como se tivesse 10 anos e a tivessemos levado a comer um Happy Meal no McDonalds.. houvesse mais!!
O último desafio que a Diana nos pôs antes de conseguirmos sair do hospital foi a icterícia. Aparentemente é muito normal acontecer em recém nascidos e nada de dramático. Antigamente dava-se uma colher de água das pedras ou então punha-se o bebé ao sol (entenda-se a levar com luz solar.. não se põe os bebés na chapa do sol), hoje em dia existe uma terapia chamada fototerapia onde os bebés levam com raios UV para resolver o assunto. Pois então a nossa Diana levou uma sessão de solário de 24horas antes de sair do hospital e vir para casa.
A primeira mensagem chega via Whatsapp: “estamos no hospital e já está em trabalho de parto!”. Começa omixfeelings…o meu filho vai ser pai e já está em trabalho de parto e nem soube que tinha começado o processo…Ligo excitada para o meu filho que me diz que está tudo bem e que está lá com a sogra. Fico mais tranquila porque está bem acompanhado.
Decido pegar na minha neta e pedir à minha cunhada para vir comigo para a maternidade. Assim é. Quando chegamos, encontro a minha filha, que vai ser tia, com o seu computador na sala de espera. Ligo para o pai que responde por sms que não pode atender que esta no quarto. Ok. Vou beber o meu primeiro café. E vai um, e vão dois cafés para ficar bem preparada para o dia Di!
E lá vamos para a sala de espera. Aparece o futuro pai….e o meu papel de mãe entra em acção. Abraço grande com enorme sorriso mas deteto umas enormes olheiras e um cansaço extremo…penso este rapaz vai ter de descansar antes da criança ir para casa….Alguém tem de estar com forças nessa altura que a mãe, eu sei por experiencia, vai ter forças sobre-humanas como todas as mães mas também vai precisar de descanso…Responde que não, que vai ficar lá à noite, e que não vai perder um segundo do processo. Olho para a avó materna e vejo o mesmo cansado estampado com muita ansiedade à mistura. Tomo consciência que para ela é a filha (única) que está em trabalho de parto da sua primeira neta! Ups…sinto que é preciso repor energia e acalmar a ansiedade de ambos….
E volta para dentro.
E nós ficamos à espera, a minha comadre, a minha filha, a minha cunhada e a ninha neta que tem 17 meses e que está comigo esta semana porque os pais tiveram de ir a Londres. Passado um tempo (perdi a noção do tempo….) vem sms que continua com 4 dedos de dilatação. Os mesmos que tinha quando entrou!
A avó materna fica preocupada com a possibilidade de cesariana, tal como ela tinha tido, e conta-me que decidiu hoje deixar de fumar…hoje? Grande coragem! A Di já anda a fazer das suas e ainda nem nasceu!... Grande avó! Grande decisão de Amor!
Então vem uma chamada de facetime e finalmente vejo a mãe que é linda econtinua linda no seu trabalho de parto…e continuamos à espera…
O tempo vai passado e vamos conversando, andando pelos corredores, bebendo cafés e petiscando, fazendo oeuromilhões….Não vá a neta trazer sorte…e esperando os sms.
Passadas umas horas finalmente já tem 7 dedos de dilatação…ótimo…oprocesso continuou e a cesariana começa a ficar mais distante.
Às 16h57 nova msg: a dilatação estava feita…mas a mãe estava com febre e tinham de fazer umas análises. Às 17h26 msg finalmente foi para a sala de partos e os telemóveis vão ser desligados!
Mixed de excitamento com ansiedade. Agora é que está quase…abraço a minha comadre que sinto que está feliz,aliviada,nervosa e em descompressão…Para ela o dia tinha começado pelas 6 da manhã a conduzir os piriquitos para lisboa….
E a msg tão aguardada chegou! Às 18h14 “A Diana já nasceu com 3.350 e uma bela voz. A Ana está bem”
Abraços, sorriso, lágrimas….whatsapp a disparar com a noticia! Tudo nos telemóveis a enviar e receber msgs. Felicidade estampada em todos nós!
Queremos foto! Peço ao pai….por msg. Queremos todos conhecer a princesa!
Ele não responde.
Tento ligar para falar com ele.
Não atente.
18h29…18h35…1845…19h…
Silencio.
Sem fotos, mas sobretudo sem mais contacto.
Conheço o meu filho.
Sei que sabe que estamos ali e se não diz nada…alguma coisa se passa…
Olha para a avó materna e sinto a mesma preocupação e angustia no olhar….
19h10, 19h15
Uma hora desde a última mensagem…ado nascimento!
Vou com a minha comadre para a entrada da sala de partos. Tocamos à campainha e aparece uma enfermeira. Dizemos o nome da mãe e vem a médica que diz que está tudo bem. O pai está com a bebé ao colo e que a mãe está a ser arranjada e que temos de esperar mais 20 minutos. Mas está tudo bem, dizem.
Ok. Voltamos para a sala de espera.
Continuo a achas estranha a falta de comunicação do meu filho…mas aceito que esteja distraído com o sue papel de pai.
19h35…19h40…19h50
Silencio…
Onde já vão os 20 minutos…e lá vamos nós outra vez para a porta da campainha!
20h00…20h05..
A porta tem um óculo de vidro e de repente reconheço as pernas e os sapatos do meu filho que está sentado atrás de um armário no corredor. Ele não nos consegue ver por causa do armário mas nós vimos o reflexo dele na janela oposta. Sentado. Com a cabeça apoiada numa das mãos. Postura pensativa, preocupada. Meu coração de mãe disparou! Só queria abrir a porta, abraçá-lo, dar-lhe colinho e dizer que esta tudo bem! A minha comadre diz…ele esta a dormir, adormeceu…eu sei que ele não esta a dormir mas respondo.Pois está. Vamos deixá-lo e não vamos tocar a campainha. Foram os segundos mais terríveis que me lembro de sentir…porque estava ele no corredor e não no quarto com a mulher e a filha? O que se estava a passar? Não sabia se queria saber alguma coisa…
Miraculosamente, apesar de não termos tocado á campainha, aparece uma enfermeira que chamou a médica, que apareceu a sorrir e a dizer que podíamosentrar!
Fui direta abraçar o meu querido filho que me disse que tinha apanhado um susto com a ana, que se tinha ido abaixo duas vezes….Com grande baixa de tensão!...por isso não queria dizer nada.Entrámos no quarto e, de repente….osanjinhos estavam todos ali naquele cantinho onde a mãe sorria a tentar dar a primeira mamada à princesa Di!
Tal como acontece no parto (quando ainda não havia epidurais nem anestesias…), no momento do nascimento esquecemos todas as dores, todo o cansaço e somos inundadas de um amor imenso que não sabíamos que era possível sentir por um ser lindo que acaba de vir ao mundo através de nós… A visão da mãe com o bebé a mamar foi o momento do meu parto enquanto avó paterna! Senti-me inundada de uma energia de tanto amor, difícil de descrever em palavras…
Naquele momento não me senti mãe, nem sogra, nem comadre, nem sequeravó …senti-me apenas inundada de um Amor imenso!
Nós os homens temos a vida facilitada nisto das gravidezes. Na verdade somos meros observadores daquilo que é o milagre da vida e embora sempre presentes, nunca passamos realmente por nada em primeira mão.
Então a minha experiência começou às 10 da noite depois de um episódio da série de eleição, a mãe começou dizer que durante o dia se sentiu diferente e que agora estava com umas contrações com mais intensidade.. eu não sentia nada tirando alguma vontade de acabar de ver o episódio.
São 11:30 e já estamos a tentar ir para a cama mas a mãe pára a cada 10min por causa de contrações e faz umas caretas. Ainda consegue rir de piadas parvas mas claramente com algum desconforto.. eu sinto sono.
São 1:00 da manhã e as dores começam a ser mais agudas (eu sei porque o som que a mãe faz também é mais agudo..) e decidimos ir para o hospital. A mãe parece um pouco assustada mas muito controlada.. eu estou excitado e proponho tirar umas selfies.
Chegamos às urgências e depois de sermos atendidos a médica diz que a mãe não começou o trabalho de parto e temos de voltar para casa. Ela está confusa e diz "se isto não são as dores do trabalho de parto nem quero imaginar" depois de mandar um "não percebo nada" para o ar.. eu estou tipo koala na árvore a mascar folhas e a contemplar o mundo à minha frente a pensar "sabe lá ela o significado de não perceber nada..".
Voltamos para casa e a mãe vira guerreira. aa contrações ficam muito mais agressivas e dolorosas com intervalos de 7min. A mãe agarra-se aos lençóis, ao colchão, ao meu braço, à minha mão, enrola o punho, trinca a almofada e geme de dores. São 2 da manhã e nesse dia acordámos às 6:30, por isso existe sempre a tentativa de de dormir entre cada ataque mas parece uma tortura do sono, quase que adormece e de repente, pimba! A mãe está em clara agonia.. eu estou tipo treinador de bancada a dizer para respirar, para relaxar entre contrações e a moralizar com tudo o que de positivo possa pensar como se isso fosse influenciar as dores. Estou totalmente fora do filme.
São 7:30 da manhã e a mãe está de rastos porque o filme é igual desde as 2:00. Já esgotei o vocabulário da moralização de bolso e a mãe passou da agonia para o desespero. Está na hora de ir para o hospital e desta vez ficamos, nem que tenhamos de meter algemas nos pulsos à volta de um corrimão.
Ligamos para o sogro para nos dar uma boleia até ao hospital (podia ir eu a guiar mas coitadinho de mim que não dormi nada). A minha sogra aparece com um sorriso enorme à porta de casa e nós nem força na bochecha temos. Naquele momento a mãe é um zombie sem forças e a levar porrada de contrações a cada 6/7min e eu .. sou só um gajo com sono na verdade.
Fazemos a autoestrada em 4 piscas e na faixa de emergência em plena hora de ponta às 8:30 da manhã. Chegamos ao hospital e a primeira coisa é pedir uma cadeira de rodas para a mãe (embora eu esteja muito cansado sou um cavalheiro) e ir de elevador directo para o andar da epidoral!
Quando levam a mãe para longe do meu controlo fiquei um bocado atrapalhado pela primeira vez .. estava claro na minha cabeça que é suposto eu ser a testemunha do processo e assim há coisas que não vejo! Ando à volta à procura da porta onde ela terá entrado e de repente oiço um berro familiar de dentro de um consultório fechado seguido de um "Bem vinda ao trabalho de parto". Estou à porta e devo ter ar de menino perdido porque uma enfermeira vem ter comigo sem eu pedir e antes de ela abrir a boca digo "Sou o marido" e com um sorriso sou recambiado para a sala de espera com um "já o chamamos".
Passados 40min lá me chamam para o quarto onde a mãe está com uma expressão de tranquilidade que parecia que eu não via à anos (mas na verdade era desde ontem). Uma expressão epidural!
Continuamos à espera e como nós está toda a gente... família mais próxima, família mais afastada, melhores amigos, amigos da escola, da faculdade, do trabalho e de outros tempos ... conhecidos com quem em tempos já trocámos umas palavras sobre um tema específico e pairam agora pelas nossas redes sociais como se fossem fantasmas (muito queridos tipo o Casper) que de vez em quando aparecem sob a forma de like ou comentário.
Resumidamente, está tudo à espera que a miúda venha cá para fora e ela teima em não sair!!
É muito engraçado porque nota-se uma grande vontade que ela nasça "Bora lá Di!; Despacha-te Miúda!; Vamos a isso!; Está quase, força!". Esta é uma sensação óptima, sentir que não somos só nós que estamos com vontade que ela venha conhecer o mundo. Temos a sorte de ter dos amigos mais selvagens aos mais emocionais e todos reagem de alguma forma carinhosa e uma pessoa sente-se preenchida com este amor que ninguém tem vergonha de exprimir porque se trata de um bebé.
É também neste momento que algumas das vontades pessoais vêm ao de cima e misturam-se rapidamente com o desejo de a ver. Então de uma forma muito carinhosa passam uma mão pela barriga e dizem-nos a nós ou directamente à Diana coisas que nos fazem rir à gargalhada!
"Na próxima semana não dá Diana, na próxima semana vou pintar a casa e remodelar a sala."
"Já agora aguenta-te mais um bocadinho que eu estou com uma gastrite e o miúdo está com febre."
"Tenho exame segunda, quarta e sexta. Bom bom era nasceres na próxima terça."
"Vamos para Londres na terça e só voltamos para a semana, aguenta-te até lá."
"Agora vou para a fisioterapia, às 18h00 podes nascer!"
E isto é muito confuso para uma criança, por isso já temos um google calendar para ver se conseguimos organizar o dia e a hora. Arranjámos uma comunicação simples de um pontapé para SIM, dois para NÃO e três para "INTERVALO PARA O CHOCOLATE" para combinarmos com a Diana e conseguirmos fazer a vontade a toda a gente. Até agora a negociação corre nos trinques e, ou bem que entendemos mal os pontapés, ou ela está a ser bem levada.